quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Segredo de Ashley

                                                Novidade

   Corpo perfeito. Foi a primeira coisa que eu consegui concluir. Ele  – meu visitante desconhecido – usava uma calça jeans e um suéter azul marinho, através do suéter dava para ver que ele era forte. Subi meu olhar para avaliar seu rosto. Ângulos perfeitos se destacavam, as linhas de seu rosto pareciam um desenho feito com medidas exatas. Deixei os olhos para o final – o meu coração começou a bater irregularmente – com certeza os olhos eram a melhor parte. Grandes, negros e inocentes, me fitavam com dúvida. E a doçura que encontrei neles era um contraste com a força que ele parecia possuir. Fiquei em silêncio por alguns segundos, talvez mais.
__ Desculpe-me se assustei você.
   O som da sua voz me pegou desprevenida outra vez. E não encontrei a minha fala. Meu Deus, o que estava acontecendo comigo?
__ Acho que não cheguei em boa hora – Ele abaixou a cabeça, e sorriu torto.
__ N-Não. E-Esta tudo bem – Eu corei, por que eu estava gaguejando?
__ Você parece nervosa.
__ U-Um pouco, confesso, você me pegou desprevenida.
__ Eu te vi aqui parada, enquanto os outros estavam se divertindo, você parecia distante.
__ Distante seria uma ótima palavra.
__ Posso te fazer companhia? Ou prefere continuar distante sozinha? – Ele riu novamente, o que me fez ter dificuldade em responder a pergunta.
__ Han... Tudo bem. Acho que estou cansada de ficar sozinha.
__ Isso é bom.
   Caminhamos em silêncio até um pequeno banco que tinha naquele parquinho. E sentamos.
__ Você é Ashley não é? – Ele me perguntou e parecia ter mais certeza que eu da resposta.
__ Como sabe meu nome?
__ Conheço alguns de seus amigos. E eles me falaram sobre você. Faz parte da turminha não é?
__ Falaram sobre mim?
__ É perguntei ao Dylan o nome das pessoas do grupinho. Ele me disse, e disse que faltava você. Eu perguntei por que você não estava vindo para o colégio, e ele me disse que nem ele sabia o por quê. Então eu fiquei interessado, não sei por que, mas queria saber quem você era.
__ Então me viu com eles, e deduziu que eu era eu. – Ele riu da minha frase confusa, e eu o acompanhei na risada. Eu sorri? Foi uma estranha sensação. Eu não sorria há muito tempo. Ele pareceu perceber isso.
__ O que houve?
__ Nada, é que ultimamente não tenho sorrido muito – Por que eu estava contando isso para ele? Eu não me abria nem com os meus melhores amigos.
__ Não acho que você queira falar comigo sobre o assunto – Fiquei paralisada, ele me conhecia, como isso era possível?
__ Como chegou a essa conclusão?
__ Não sei, acho que você é bem transparente.
__ Você é a única pessoa que acha isso.
__ Talvez porque eu seja a única pessoa que deva te conhecer melhor que você mesma – Demorei alguns segundos para compreender a frase dele.
__ Você ainda não me disse seu nome.
__ Tyler.
   Ele me olhou como se tentasse interpretar meus pensamentos através do meu olhar. Olhei no relógio e ele marcava 23h30.
__ Você tem que ir – Não foi uma pergunta.
__ Sim.
__ Amanhã nos veremos?
__ Não sei.
__ Esperava que a resposta fosse positiva – Ele sorriu para mim e eu sorri em resposta.
   Me levantei, e acenei para os meus amigos. Julie correu para se despedir.
__ Já vai Ash? – Olhou para o Tyler – Hum, fez uma amizade nova.
   Eu desprezei seu comentário.
__ Já está tarde.
__ Levamos você.
__ Não precisa. Boa noite – Disse aos dois.
__ Boa noite – Apenas Tyler respondeu.
   Cheguei em casa, e não havia ninguém me esperando. Estranhei. Mas fui para o meu quarto. E logo peguei no sono. Aquele foi o primeiro dia em que sonhei com Tyler.


                                                                     Garota do Blog

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Segredo de Ashley

                                                  Clima

   Os primeiros dias após esse episódio foram terríveis, a minha mãe mal falava com a gente, bom, nós três mal nos falávamos. Cada um estava em seu canto vivendo sua própria dor. Fiquei uma semana sem ir à escola, e a minha mãe não reclamou disso, para ser sincera eu não tinha vontade de fazer absolutamente nada. Meu pai somente ligava para mim e para o meu irmão, mas eu não atendia, e como não estava me comunicando devidamente com o meu irmão não sabia se ele atendia essas ligações. Eu sempre corria para a minha querida casa da arvore, e na sexta feira, decidi que estava perdendo o controle das coisas. E que eu estava parecendo um zumbi, não poderia me isolar do mundo por causa dos meus problemas, e eu não queria correr o risco de ficar louca. Bom, desci do meu refugio secreto – secreto porque ultimamente as pessoas daquela casa esqueceram a existência dele – e fui me arrumar para sair. Para onde? Nem eu sabia, só não queria ficar mais naquele lugar. Precisava reencontrar as minhas forças.
   Quando terminei de me arrumar, liguei – sem ter sucesso algum – para todos os meus amigos, eles sempre foram difíceis de se comunicar mesmo, e acho que nos últimos dias eles devem pensar que eu estou morta, pois rejeitei todas as ligações deles. Que amiga terrível eu era.
   Mas, eu não me intimidaria por isso, resolvi que iria sair sozinha mesmo. Peguei minha bolsa, e desci as escadas ate a sala. D. Rosalie – minha mãe – estava sentada de frente para a parede de vidro que dava de frente para o jardim. Pretendia passar correndo por ali.
__ Esta mais animada isso é bom – Ela disse quase que para si mesma. Não tive certeza se deveria responder.
__ Han...
__ Antes você se arrastava pela casa, agora esta com o passo mais firme – Não havia vida na voz da minha mãe, isso fez com que eu não conseguisse responder. Abri a porta e comecei a andar, me lembrei que ela costumava dizer: Não volte tarde. Era o aviso final. Ela não disse nada... Não, não vou voltar para a minha escuridão, vou tentar pensar em outra coisa. Fui ate o Jack’s era onde a galera se encontrava de sexta. E eu não estava errada estavam todos ali.
__ Olha só quem ressuscitou dos mortos! – Dylan disse, erguendo os braços para me dar um abraço – Você fez falta.
__ Claro que fez – Julie complementou – senti falta da minha melhor amiga, que decidiu se tornar anti-social.
   Todos riram menos eu é claro. Todos estavam ali Dylan, Julie, Rob, John e Carly. Meus amigos, eu prestei o máximo de atenção na conversa deles, eles não me obrigaram a falar, me conheciam muito bem, e sabiam quando eu precisava apenas de companhia. Saímos depois, pra dar uma volta, ali perto tinha um parquinho, onde brincávamos quando éramos crianças. Eles correram pra se balançar, e eu fiquei olhando a imagem, como um quadro, tanta felicidade, era estranho esse clima, diferente da falta de vida que eu estava acostumada. Era agradável, eu poderia até me sentir feliz.
__ Esta tendo uma noite agradável? – Era uma voz masculina e desconhecida, veio de trás de mim.
   Eu me virei para responder, mas quando o vi, não consegui pronunciar uma palavra sequer.




                                                                                               Garota do Blog

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Segredo de Ashley

                                                 O começo.

Era 7 de Setembro, e a minha vida já não fazia sentido a muito tempo. Eu estava sentada na casa da árvore que ficava no jardim de casa, lugar onde antigamente era cheio de vida, cheio de esperança e felicidade. Eu costumava brincar aqui, quando era criança. Sempre que chegava do colégio, deixava minhas coisas em casa e apostava corrida com o meu pai, e ficávamos aqui, imaginando aventuras.       Antes eu vinha aqui, para brincar, e lembrar como eu era feliz. O tempo passou, e meu pai não tinha mais tempo pra vir comigo ate aqui. Não tinha mais tempo de ficar em casa. E então as brigas começaram. E este lugar virou o meu refugio. Era onde eu me escondia da minha família, eles começavam a brigar, e eu corria pra cá. Desde então, este lugar não era mais de felicidade, não tinha mais vida, e sim solidão e vazio.
   Sempre pensei que este lugar era como um reflexo de mim mesma. Um reflexo da minha alma.
   Eu passo a maior parte do meu tempo aqui, não tenho mais prazer em ir pra casa, o clima lá dentro é quase sufocante. Eu sempre penso em duas imagens, a minha família antigamente, tão feliz que qualquer um que entrasse em casa, sentia-se feliz também sem compreender o por que. E a de hoje, sem vida, parecendo que nós apenas nos aturamos. Que qualquer um que entrar em casa, sente-se mal sem compreender o por que também. Essa imagem é muito difícil de ver, por isso passo o menor tempo possível em casa. E hoje parece que uma decisão foi tomada. Eu vejo tudo da janela da minha casa na árvore. Meu pai levando suas malas ate o carro, enquanto a minha mãe grita com ele, e meu irmão, encostado na lateral da casa, olhando a cena fingindo indiferença, mas de relance eu vi algo descer por seus olhos, como uma lágrima. Parecia-me a cena de um filme, e algo molhado desceu por meus olhos, eu precisei de algum tempo pra me dar conta de que aquilo eram lágrimas e que eu estava chorando. Foi quando minha mãe gritou por mim.
__ Ashley! Impeça-o.
   Que me arrancou de meu devaneio a tempo de ver meu pai ir embora.